Minha experiência com Finasterida  

 
 

O cabelo não é fundamental para a sobrevivência orgânica do ser humano. No entanto, do ponto de vista estético-psicológico e social sua integridade reflete no padrão cultural vigente poderosa, auto estima tornando inseguros e infelizes aqueles que os perdem. A falta de cabelo tem representações internas que afetam a saúde global do indivíduo. Sendo assim, vemos com grande entusiasmo as pesquisas cada vez mais constantes e inovadoras nesta área, sobretudo pela conquista de medicações eficazes.

Além disso, o folículo tem uma característica ímpar, renovando-se a cada ciclo como se nova embriogênese estivesse a ocorrer. Que mensagens e fascinantes interligações imuno-neuro-endocrinológicas ocorrem, ainda não sabemos, porém no caminho para desvendá-los já aumentamos muito conhecimento. E assim sendo, enfatizamos que a ciência é deslumbrante e provavelmente esconde numa lógica simples respostas que as vezes parecem mirabolantes.


Minha experiência com Finasterida


Há alguns anos atrás seria impossível imaginar que haveria um tratamento tão eficiente para prevenir e tratar a calvície masculina. Centenas de homens que tinham o pai calvo, viam-se obrigados a resignar-se com o destino imposto por sua carga genética.

Hoje "só é calvo quem quer " pois a medida que se procure um especialista este pode conseguir excelentes resultados no tratamento da alopecia androgenética masculina.

A calvície é um processo específico onde os cabelos predispostos geneticamente entram num processo de miniaturização (afinamento) transformando-se em fios tipo vellus que são penugens e perdem a viabilidade de crescimento.

Os cabelos tem um ciclo continuado durante toda a vida, passando por fases de crescimento e repouso através de um mecanismo de morte e vida programada (apoptose). Este ciclo não é sincronizado como em alguns animais, sendo que cada fio de cabelo está numa fase específica distribuindo-se cerca de 85% na fase de crescimento (anágena) e 15% na fase de repouso (telógena).

A mensagem necessária e suficiente para que o fio passe da fase anágena para a telogena não está totalmente esclarecida. Fatores nutricionais e hormonais cumprem papel relevante. No caso da alopecia androgenética como o próprio nome diz, os gens tem um papel relevante , mas não se conhece ainda o detalhamento da composição e expressão dos mesmos. 

Filhos de pais extremamente calvos parecem também desenvolver calvície extensa enquanto as mulheres tem mais influência da genética feminina familiar.

A calvície masculina não é acompanhada de alterações hormonais porém os andrógenos são necessários para o processo de miniaturização. São conhecidos os estudos que demonstram a importância dos hormônios no desenvolvimento da calvície. Homens castrados antes da puberdade não ficam calvos, mas quando tratados com andrógenos podem desenvolver algum grau de calvície. No entanto apesar destas evidências os estudos sempre demonstraram que os níveis de testosterona de calvos e não calvos é o mesmo. 

A partir dos anos 70, conhecendo -se um pouco mais sobre homens com deficiência da 5-alfa redutase começou-se a desvendar o mistério da ação hormonal.

Sabe-se hoje que a testosterona quando penetra ma célula específica tem um caminho metabólico importante sendo transformado em dehidrotestosterona que por sua vez faz uma ligação forte com o receptor específico. Este hormônio mais receptor entra no núcleo celular do cabelo e promove a miniaturização do fio.

Este mecanismo explica em grande parte a etiopatogenese da calvície masculina.Uma das maneiras mais específicas de tratar a alopecia androgenetica masculina é utilizando-se a finasterida que é um inibidor específico da 5-alfa redutase 2 , provocando a diminuição do DHT e conseqüentemente ausência do receptor mais hormônio que provoca a miniaturização.

A finasterida nos estudos de fase III demonstrou ser segura e eficaz para o tratamento da calvície. Ela não interfere na função hepática e não provoca alterações nos lipídios. Sua ação não reduz o nível de testosterona circulante, mas sim o DHT intracelular.

Nestes mesmos estudos de fase III, 1,8% dos homens queixaram-se de baixa do libido, contra 1,3 dos que utilizaram placebo.Este efeito parece diminuir com a continuidade do tratamento e logicamente desaparece após sua interrupção.

Há muitos anos venho utilizando esta medicação para tratar homens calvos.

Considero muito importante a consulta médica com o especialista para iniciar o tratamento com esta medicação. O paciente traz geralmente muitas dúvidas, fantasias e ansiedades antes de iniciar o mesmo. Para que a medicação seja eficaz é importante o entendimento do seu mecanismo de ação, os efeitos colaterais possíveis e que resultado pode-se esperar do tratamento.

Considero importante para o resultado final, explicar como a finasterida age, aumentando o efeito da 5-alfa redutase e desta forma impedindo a ligação do DHT.

Sendo assim, a finasterida irá impedir a continuidade do processo de calvície, além de reverter o afinamento de alguns fios. O cabelo não irá nascer do nada, porém poderá engrossar e aumentar a densidade.

Tirar fotografias antes do tratamento ajuda tanto o médico como o paciente no acompanhamento do caso. O primeiro se olha todos os dias e perde a referência da melhora enquanto o médico não o vê por 4-5 meses e pode também esquecer o quadro inicial. Muitos pacientes ao verem sua fotografia antes do início do tratamento estranham o quanto "eram" calvos. Explicações sobre lavagem diária ou não, uso de produtos como géis e mousses, além do corte de cabelo, entre outros são importantes para desmistificar certas idéias e reduzir a ansiedade do paciente. Poucos fatores externos influenciam o processo da calvície.

Explicar sobre os efeitos colaterais especialmente porque estes são ligados a sexualidade reduz a chance da suspensão do tratamento caso esse venha a ocorrer.

A finasterida é uma droga segura. Não há hepatotoxicidade ou outro efeito sistêmico. Não há necessidade de exames de controle. A droga também não está associada ao câncer de próstata, mas ao contrário, até pode ajudar a mesma. No caso de hiperplasia prostática benigna, não peço exames laboratoriais para acompanhar o paciente em uso de finasterida, somente quando homens por volta de 50 anos iniciam o tratamento é interessante ter um exame de PSA como referência. 

Em geral, o paciente em uso de finasterida começa a melhorar após 4 meses de tratamento. A queda de cabelo é a primeira a ceder, e em seguida ocorre aumento da densidade capilar.
Por volta de um ano de tratamento, o paciente atinge o máximo de densidade e em seguida ocorre a manutenção.

Cerca de 1% dos meus pacientes, especialmente aqueles acima de 40 anos, queixam-se de diminuição da libido. O efeito no grupo de pacientes com placebo no estudo de fase três, também ocorrem não havendo significado estatístico nessa comparação.

Os efeitos colaterais diminuem com a continuidade do tratamento. Não está claro se ocorre um efeito "emocional" ou se há maior sensibilidade em certos indivíduos. A grande maioria dos pacientes, na minha experiência, não tem efeitos colaterais e sente-se gratificado com o resultado do tratamento.
Considero a finasterida um dos avanços substanciais na área da calvície, pois as doenças genéticas são de difícil tratamento e controle.

 

CONTROLE HORMONAL DO CRESCIMENTO DO FOLÍCULO PILOSO


Os andrógenos são os principais hormônios na regulação do crescimento do cabelo. Estes hormônios são responsáveis pela mudança da característica dos pêlos na época da puberdade. A influência hormonal depende do local do corpo e mesmo no couro cabeludo os cabelos da região fronto-parietal respondem diferentemente daqueles da região occipital. Os andrógenos também estão envolvidos com doenças como hirsutismo e alopecia androgenética.

Eles são produzidos pelas gonadas e também pela glândula supra-renal sendo que tanto o primeira quanto a segunda são reguladas pelo eixo hipotálamo-hipofisário.

Na seqüência os hormônios masculinos são transportados na circulação pela proteina carreadora de hormônios sexuais, sendo que cerca de 98% estão ligados a ela e somente 2% estão na forma livre. O mecanismo de ação dos androógenos é intracelular e a testosterona livre tem um papel preponderante nesta regulação.

Dentro da célula a testosterona segue vários caminhos metabólicos sendo o principal a transformação em dihidrotestosterona (DHT) pela ação da enzima 5 -alfa-redutase. Após esta transformação a DHT liga-se a receptor específico dos andrógenos e então age no núcleo celular através do RNA, modificando sua resposta.

Todos os andrógenos podem ligar-se ao receptor intra-celular, porém a ligação DHT- receptor é mais eficiente, sendo cerca de vinte vezes mais potente do que a ligação testosterona-receptor. A resposta nuclear à este complexo hormônio-receptor é variável de local para local e de situação para situação. Na região da barba por exemplo, a ação androgenica favorece o engrossamento do fio, enquanto que nos indivíduos predispostos à calvície o androgeno favorece a miniaturização dos pêlos na região superior do couro cabeludo.

Doenças hormonais que causem hiperandrogenismo como tumores de ovário, ovário policístico, tumores da adrenal, entre outros, causam nas mulheres as doenças andrógeno-dependentes como hirsutismo e alopecia androgenética.
Os homens não parecem ser tão sensíveis a pequenos aumentos de andrógenos, porém a ausência dos mesmos levam a completa feminilização.

Nas mulheres outra particularidade é que os andrógenos são metabolizados em estrógenos pela enzima denominada aromatase, sendo este um caminho metabólico importante na fisiopatologia da calvície e hirsutismo.

Outros hormonios como os estrógenos, hormonios tiroidianos e hormonio do crescimento também estão envolvidos com o crescimento e espessura do cabelo, porém a ação fisiológica dos mesmos ainda não está totalmente esclarecida.

Fatores locais também são críticos neste controle, tais como: fatores de crescimento (fator de crescimento epidérmico, fator de crescimento insulin-like, fator de crescimento do fibroblasto), papila dérmica e células do bulge (stem cells).

A influência de todas estas estruturas e fatores ainda não está totalmente determinada havendo muita controvérsia e estudos em andamento.

 

Notícias da Academia Americana de Dermatologia


Em um simpósio sobre Alopecia Androgenética coordenado por Vera Price foram colocados os seguintes questionamentos:

1- A alopecia androgenética feminina é andrógeno dependente ?
2- Qual a razão das mulheres apresentarem expressão clínica menos intensa que no homem ?
3- O afinamento dos cabelos na idade avançada (após os 60) também é alopecia androgenética ?
4- Por que as mulheres não respondem a finasterida após a menopausa ?
Após argumentação e análise de trabalhos da literatura as respostas foram as seguintes:
1- A calvície nas mulheres também é andrógeno dependente.
2- A expressão clínica é menos intensa devido a aromatase, estradiol e receptores de estrógeno (ERB).
3- Estudos pilotos sugerem que o afinamento dos fios após a 3ª idade não é alopecia androgenética e não tem dependência dos hormônios androgênicos.
4- A explicação é que estas mulheres (70%) apresentavam quadro de afinamento pela idade não andrógeno dependente, portanto, sem potencial para responder a finasterida.

 

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